sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Os problemas dos calendários futebolísticos brasileiro e mundial e suas possíveis soluções.


Mais uma vez a cbf recebe críticas de todos os lados ao apresentar o seu famigerado calendário de competições para 2015.

E todas elas fazem total sentido, pois ele é inchado, anacrônico, confuso e danoso aos clubes, sejam eles grandes ou pequenos.

Para os clubes grandes, o calendário apresentado incomoda por conta dos estaduais e pelo fato de que os campeonatos serão disputados paralelamente à Copa América, as Datas-FIFA e aos jogos da Seleção Olímpica, ou seja, os principais atletas que atuam no futebol nacional estarão boa parte do tempo a serviço da seleção da cbf, salvo se for algum atleta em fase descendente da carreira, como é o caso de Robinho do Santos.

Os mesmos estaduais também não satisfaz os atletas dos clubes pequenos, porque o calendário se restringe a 2 ou 3 meses pra turma que não está inserida nas 3 divisões do futebol nacional. Ou seja, a chaga do desemprego continuará em alta e os atletas continuarão sendo vítimas da sazonalidade.

Chega-se ao absurdo p. exemplo, de numa mesma quarta-feira termos jogos da Copa do Nordeste, Copa do Brasil e Libertadores.

Mas o calendário não parece ser problema exclusivo do futebol brasileiro, e até mesmo ele é vítima dos devaneios de Conmebol e - porque não - da FIFA.

A seguir elencaremos uma série de problemas explícitos do calendário internacional e brasileiro.

1 - Datas FIFA em excesso e espalhadas ao longo da temporada:


Ultimamente tem-se aumentado e muito o número de datas reservadas à competições envolvendo as seleções nacionais. 

As eliminatórias longas, o excesso de amistosos sem muita utilidade, a Copa das Confederações, tudo isso atrapalha a vida dos clubes.

Competições de clubes acontecendo no mesmo período das datas FIFA / Copa do Mundo / Copas Continentais não é uma jabuticaba. A própria UEFA - tida como paradigma - agenda as fases preliminares da Liga dos Campeões e da Liga Europa em períodos em que são realizadas a Eurocopa e a Copa do Mundo. Esse ano mesmo tivemos campeonatos nacionais rolando enquanto a "Copa das Copas" comandava a atenção do planeta.

Isso decorre principalmente do excesso de datas, tanto para a FIFA como para as competições em geral. É muita data em excesso.

E o fato das datas-FIFA serem espalhadas ao longo da temporada ainda atrapalha mais, porque elas geralmente ocupam 3 datas (normalmente são 2 jogos e 1 data é usada pra preparar a seleção). Se por um lado isso representa uma pausa para os clubes, por outro lado ela atrofia ainda mais o calendário daqueles, que têm que jogar várias quartas e domingos sem folga, se quiserem respeitarem à risca as datas-FIFA.

Solução: Melhor seria concentrar as datas-FIFA e competições envolvendo seleções nacionais no meio do ano, entre o final de maio e o começo de julho. 7 a 8 semanas por temporada seria suficiente para abrigar todas as competições possíveis, incluindo aí um bom período de preparação e intervalos pontuais para recuperação dos atletas. Além disso, importante também reduzir o número de datas reservadas às eliminatórias da Copa do Mundo que, no caso da Conmebol, ocupam 18 datas - a título de comparação, as eliminatórias para a Copa de 1994 tinha apenas 10 datas.

2 - O calendário da Conmebol é inchado:


Compulsando o calendário da cbf, constatamos que a Copa Libertadores e a Copa Sul-Americana juntas possuem 26 datas.

Elas não são disputadas paralelamente e isso afeta diretamente o calendário brasileiro, em especial a Copa do Brasil, conforme veremos a seguir.

Além disso, no caso da Conmebol, a existência de 2 torneios é um tanto dispendioso, até porque ambos pagam muito pouco em premiação, razão pela qual ambas as competições ainda não têm tanto prestígio por aqui, como acontece nos países vizinhos.

Solução 1: A mais simples e óbvia seria colocar a Libertadores e a Sul-Americana nas mesmas datas, no mesmo período, como acontece na Europa. Isso valorizaria e democratizaria as competições nacionais, e evitando a possibilidade de um mesmo clube disputasse as 2 competições. As datas ganhariam uma melhor distribuição ao longo do ano e não teríamos competições apertadas. 14 a 16 datas seriam suficientes.

Solução 2: Extinguir a Copa Sul-Americana e fazer uma Libertadores com um número maior de clubes participantes e envolvendo as equipes de México e EUA para fortalecer financeiramente a competição. Uma fusão entre Concacaf e Conmebol é muito desejada. E uma única competição continental é bem mais vantajoso, pois concentraria toda a premiação, os patrocinadores e os interesses dos clubes. Uma competição com, digamos, 64 clubes (16 dos quais seriam advindos da Concacaf), ocuparia apenas 16 datas.

3 - Copa do Brasil e seu eterno conflito de datas:


Se tem uma competição que vive apresentando problemas de espaço no calendário essa competição é a Copa do Brasil.

Antes os clubes inseridos na Libertadores não poderiam participar da competição por conflito de datas. 

Em outras épocas isso não seria um problema, bastava os clubes de maior porte - que são geralmente os que disputam a Libertadores - colocarem times "expressinhos" para disputar uma das competições (lembram-se do São Paulo no início da década de 90?). Mas não foi isso que aconteceu ,seja porque a cbf proibiu, seja porque os próprios clubes esfacelaram suas categorias de base e não têm mais condições de montarem bons "expressinhos".

Em 2013 a cbf mudou a competição e abriu espaço para os clubes da Libertadores, mas na verdade apenas transferiu o problema, pois agora ela iria ser disputada paralelamente a Copa Sul-Americana.

Chega-se ao cúmulo de um clube brasileiro ter que optar entre a competição continental e a Copa do Brasil e com isso nos deparamos com derrotas "propositais" de clubes do médio escalão do futebol brasileiro, que passam a ter a chance rara de disputar uma competição continental. 

Solução 1: Se a Conmebol colocar as suas competições para serem disputadas em paralelo, a Copa do Brasil ocuparia facilmente as 10 datas vagas.

Solução 2: Em caso da Conmebol permanecer com esse absurdo de datas, as vagas reservadas aos brasileiros na Copa Sul-Americana voltaria a ser exclusivamente pela classificação no Campeonato Brasileiro ou pela Copa do Nordeste/Copa Verde. Os clubes que estiverem inseridos na Copa do Brasil e na Sul-Americana disputariam ambas as competições em paralelo, normalmente, sendo que em uma delas montaria um time "expressinho".

Solução 3: Vendo o calendário de 2015, vemos que temos 9 quartas-feiras reservadas ao campeonato brasileiro. Nesse caso a solução seria reduzir o número de datas reservadas a esta competição.

4 - Estaduais inchados para os grandes e curto para os pequenos:


Esse problema é velho.

Para os grandes clubes, os Estaduais são um verdadeiro estorvo, onde cerca de 3/4 dos jogos não valem nada e representam prejuízos técnico e financeiro.

Por outro lado, para os atletas dos clubes pequenos, os estaduais representam um jogo pela sobrevivência e manutenção do emprego. Quem não se classificar para Série B, tem que procurar outra coisa a fazer até o próximo ano. 

A situação é mais dramática para esses atletas porque a maioria esmagadora dos clubes pequenos espalhados pelo Brasil são pseudoprofissionais. Peguemos o  exemplo do RN. A cartolagem quer manter o calendário em 2 ou 3 meses, com o aval da FNF, pouco se importando com os atletas e seus torcedores. Não há qualquer incentivo para fomentar o profissionalismo e nem os dirigentes têm qualquer credibilidade para receber tamanho fomento.

Solução: Estaduais seriam disputados durante a temporada inteira - em paralelo ao campeonato brasileiro - e funcionaria como uma espécie de Série E. E para que tais competições possam se viabilizar, é necessário que a cbf financie tais competições, bancando parte dos salários dos atletas. Os clubes inseridos nas 4 divisões do campeonato brasileiro ou entrariam apenas na fase final ou disputariam torneios estaduais especiais com os melhores das competição.


5 - Competições nacionais x Competições de Seleções e Datas-FIFA:


Atualmente é impossível para os clubes brasileiro folgarem nas datas-FIFA.

Só de Campeonato Brasileiro, Estaduais e Copa do Brasil, temos 71 datas. É jogo demais e alguém tem que ceder, coisa que não acontece.

Solução: No atual momento, com o calendário que está aposto pela FIFA, tem que ser reduzido o número de datas de todas as competições, inclusive o Campeonato Brasileiro.

6 - Excesso de jogos nas quartas e domingos:


Esse é outro problema de ordem mundial.

As competições cada vez mais possuem datas, sempre aproveitam os espaços outrora vazios.

Ainda assim, lá fora se buscam soluções para que os clubes joguem no máximo 6 a 7 partidas por mês.

Aqui no Brasil, na atual conjuntura, é impossível haver uma mísera folga no meio de semana, a não ser que o clube seja eliminado.

Solução: restringir o Campeonato Brasileiro/Estaduais aos fins de semana, bem como fazer com que os jogos das competições eliminatórias (Copa do Brasil/fases finais da Libertadores, Copa do NE, Copa Sul-Americana, etc.) sejam disputadas apenas nas quartas-feiras e em apenas 1 única partida por fase, ao invés das 2 partidas habituais.

7 - Copa do NE e demais regionais:


A Copa do NE é sem sombra de dúvidas uma das melhores coisas do calendário brasileiro.

O modelo é deveras interessante no atual formato e valoriza os Estaduais.

Mas ele poderia ter uma visibilidade maior se fosse uma competição mais espalhada ao longo da temporada, como acontece com a Copa do Brasil atualmente.

Solução: o ideal seria que a Copa do NE e demais regionais fossem disputados nas mesmas datas reservadas à Libertadores / Sul-Americana.

8 - Conclusões:


Como podemos ver, é possível sim organizar um calendário decente, mas na atual conjuntura, isso exige alterações radicais que envolvem todas as competições.

O tema não se encerra por aqui, pois pretendo algum dia colocar algumas ideias e sugestões para termos um calendário unificado e racional.

Gustavo Lucena
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