As semanas que antecederam essa data foram altamente dramáticas para a história do ABC FC.
Teve a goleada sofrida por 5x0 pelo modesto time do ASSU em pleno Frasqueirão. Me lembro que estava voltando de Búzios de um aniversário de um amigo e parei no estádio. Já estava 2x0. Confesso que foram os R$ 5,00 mais mal empregados no ABC (naquela época eu não era sócio, coisa que só faria quando começou a Série C) em um jogo.
A semana seguinte foi dramática em todos os aspectos: houve muita dificuldade para trazer um treinador que substituísse Roberval Davino. Flávio Lopes deu sonoro não ainda na noite da goleada, e o Presidente Judas Tadeu teve que fazer 3 refeições com Ferdinando Teixeira para convencê-lo a treinar um time totalmente esfacelado e moralmente no fundo do poço. Contou ainda com a ajuda do filho do treinador, que é conselheiro ABCdista. Além disso, teve que aparar arestas com vários homens-fortes que estavam auxiliando o empresário das guloseímas.
Vários jogadores foram dispensados e não havia mais tempo hábil para contratar peças de reposição. O velho Ferdinando encontrou um elenco limitado e ainda por cima reduzido numericamente.
Diretoria e grande parte da Frasqueira, desacreditados e desmoralizados, só queriam apenas 1 modesto 3º lugar que garantiria 1 das vagas para a Série C.
Ao final da 1ª fase, o ABC obtém o 2º colocado, muitos pontos atrás do rival, que se autointitulou o Barcelona do Nordeste. Também pudera, estava na Série A, tinha o dinheiro da Destaque, o presidente deles era eminência parda do governo estadual e os seus torcedores estavam na moda, muito embora os públicos do time de vermelho fossem pífios, menor até que os obtidos pela dupla Poti-Ba, que também viviam um bom momento.
No mata-mata o rival atropelou os oponentes e o ABC sempre se classificava as duras penas.
Quando superou o Potiguar-M e alcançou a final, a sensação era de alívio por ter alcançado a Série C. Porém 2 dias depois, o time mossoroense entrou com um pedido no TJD para desclassificar o Mais Querido e com isso alijá-lo até mesmo do Camp. Brasileiro, alegando que Ivan jogou irregular, ainda que o nome do atleta tenha sido publicado no BID da FNF.
(Abro um parênteses: os Estaduais de 2006, 2007 e 2008 foram altamente bagunçados, a turma de Pio Marinheiro e cia. tinham mais holofotes que os jogadores. Hoje, com uma gestão mais sólida, a bagunça acabou, o sistema de disputa do Estadual é muito bom e premia os melhores dentro de campo. Talvez por isso é que o rival e os clubes do interior chorem tanto, pois eles adoravam uma bagunça).
A semana que antecedeu o 1º jogo foi dramática, pois muita coisa suja correu nos bastidores, inclusive vazou um parecer da procuradoria recomendando a suspensão do campeonato. Surpreendentemente Pio Marinheiro indefere o pleito do Potiguar-M e o jogo é marcado para o domingo.
O rival achava que ia dar uma lavada, afinal o ABC era só um "timezinho esforçado" nas palavras do treinador deles.
Ao final do 1º jogo, 1x1 com o ABC jogando melhor. Isso deve ter levado o G-4 ao desespero, pois no dia seguinte eles - através da imprensa - pediam a cabeça do ABC por causa do Ivan. Entraram também com um pedido de eliminação do ABC, só que cumulado com a homologação do título do rival.
Isso criou um clima de revolta entre os torcedores do ABC, indignados com a postura nada ética dos dirigentes rubros - que zombavam direto do Mais Querido. E a situação já estava muito pesada em razão do assassinato covarde da estudante torcedora do ABC Kaliene.
No sábado fui comprar o ingresso e me deparei com uma torcida muito mordida. Ela começou a acreditar mais no título.
Vazou também lá na Vila Olímpica um boato de que dirigentes do rival já estavam comemorando o título de maneira antecipada, tinham se embebedado na sexta-feira véspera do jogo.
Diante desse clima pesado em torno do jogo, Ferdinando Teixeira tratou de instigar os jogadores a darem o máximo de si e conquistarem o campeonato. Aliás foi o último grande momento do vitorioso treinador, pois essa reviravolta do elenco ABCdista teve o seu DNA. Raposa velha, preparou todo o ambiente pré-jogo para extrair dos atletas mais de 100% das forças.
O vestuário do ABC transmitiu uma energia ultrapositiva, a Frasqueira incentivou como nunca e o time ignorou totalmente o fato do lado de lá ser o "Barcelona do Nordeste", o "orgulho do RN", etc.
O resultado é que o jogo trouxe emoções que não senti nem mesmo quando o ABC obteve conquistas maiores, como os acessos a Série B e o título da Série C.
Ao final do 1º tempo, quando o placar apontava 4x1 em favor do Mais Querido, ao ver os jogadores instigando a torcida, batendo a mão no escudo do nosso time, demonstrando uma raça acima do anormal, comecei a chorar copiosamente, era um desabafo muito forte, pois desde o que comecei a acompanhar o ABC com mais afinco, o time só passava por situações humilhantes, especialmente entre 2003 e 2006, quando quase não viamos o Mais Querido jogar em razão do perverso calendário da cbf e das ações obscuras que fizeram o Estadual durar apenas 1 ou 2 meses no máximo.
Naquele dia veio na minha mente as mensagens da arrogante e pseudograndiosa torcida rouge (eles ainda tiveram a audácia de achar que a torcida deles eram maior do Estado). Isso tudo me fez chorar.
E com a alma lavada, o ABC passou a viver uma nova fase de sua vida, quebrando todas as correntes e estigmas que impediam a Frasqueira de sonhar mais alto.
Aquele 5x2 foi um típico filme épico em que nós da Frasqueira fomos protagonistas. Foi o dia em que a Frasqueira vestiu a carapuça de Rocky Balboa, Chris Gardner, George McFly, e outras personagens do cinema que romperam a barreira dos fracassados e se tornaram os heróis do dia.
Gustavo Lucena
Teve a goleada sofrida por 5x0 pelo modesto time do ASSU em pleno Frasqueirão. Me lembro que estava voltando de Búzios de um aniversário de um amigo e parei no estádio. Já estava 2x0. Confesso que foram os R$ 5,00 mais mal empregados no ABC (naquela época eu não era sócio, coisa que só faria quando começou a Série C) em um jogo.
A semana seguinte foi dramática em todos os aspectos: houve muita dificuldade para trazer um treinador que substituísse Roberval Davino. Flávio Lopes deu sonoro não ainda na noite da goleada, e o Presidente Judas Tadeu teve que fazer 3 refeições com Ferdinando Teixeira para convencê-lo a treinar um time totalmente esfacelado e moralmente no fundo do poço. Contou ainda com a ajuda do filho do treinador, que é conselheiro ABCdista. Além disso, teve que aparar arestas com vários homens-fortes que estavam auxiliando o empresário das guloseímas.
Vários jogadores foram dispensados e não havia mais tempo hábil para contratar peças de reposição. O velho Ferdinando encontrou um elenco limitado e ainda por cima reduzido numericamente.
Diretoria e grande parte da Frasqueira, desacreditados e desmoralizados, só queriam apenas 1 modesto 3º lugar que garantiria 1 das vagas para a Série C.
Ao final da 1ª fase, o ABC obtém o 2º colocado, muitos pontos atrás do rival, que se autointitulou o Barcelona do Nordeste. Também pudera, estava na Série A, tinha o dinheiro da Destaque, o presidente deles era eminência parda do governo estadual e os seus torcedores estavam na moda, muito embora os públicos do time de vermelho fossem pífios, menor até que os obtidos pela dupla Poti-Ba, que também viviam um bom momento.
No mata-mata o rival atropelou os oponentes e o ABC sempre se classificava as duras penas.
Quando superou o Potiguar-M e alcançou a final, a sensação era de alívio por ter alcançado a Série C. Porém 2 dias depois, o time mossoroense entrou com um pedido no TJD para desclassificar o Mais Querido e com isso alijá-lo até mesmo do Camp. Brasileiro, alegando que Ivan jogou irregular, ainda que o nome do atleta tenha sido publicado no BID da FNF.
(Abro um parênteses: os Estaduais de 2006, 2007 e 2008 foram altamente bagunçados, a turma de Pio Marinheiro e cia. tinham mais holofotes que os jogadores. Hoje, com uma gestão mais sólida, a bagunça acabou, o sistema de disputa do Estadual é muito bom e premia os melhores dentro de campo. Talvez por isso é que o rival e os clubes do interior chorem tanto, pois eles adoravam uma bagunça).
A semana que antecedeu o 1º jogo foi dramática, pois muita coisa suja correu nos bastidores, inclusive vazou um parecer da procuradoria recomendando a suspensão do campeonato. Surpreendentemente Pio Marinheiro indefere o pleito do Potiguar-M e o jogo é marcado para o domingo.
O rival achava que ia dar uma lavada, afinal o ABC era só um "timezinho esforçado" nas palavras do treinador deles.
Ao final do 1º jogo, 1x1 com o ABC jogando melhor. Isso deve ter levado o G-4 ao desespero, pois no dia seguinte eles - através da imprensa - pediam a cabeça do ABC por causa do Ivan. Entraram também com um pedido de eliminação do ABC, só que cumulado com a homologação do título do rival.
Isso criou um clima de revolta entre os torcedores do ABC, indignados com a postura nada ética dos dirigentes rubros - que zombavam direto do Mais Querido. E a situação já estava muito pesada em razão do assassinato covarde da estudante torcedora do ABC Kaliene.
No sábado fui comprar o ingresso e me deparei com uma torcida muito mordida. Ela começou a acreditar mais no título.
Vazou também lá na Vila Olímpica um boato de que dirigentes do rival já estavam comemorando o título de maneira antecipada, tinham se embebedado na sexta-feira véspera do jogo.
Diante desse clima pesado em torno do jogo, Ferdinando Teixeira tratou de instigar os jogadores a darem o máximo de si e conquistarem o campeonato. Aliás foi o último grande momento do vitorioso treinador, pois essa reviravolta do elenco ABCdista teve o seu DNA. Raposa velha, preparou todo o ambiente pré-jogo para extrair dos atletas mais de 100% das forças.
O vestuário do ABC transmitiu uma energia ultrapositiva, a Frasqueira incentivou como nunca e o time ignorou totalmente o fato do lado de lá ser o "Barcelona do Nordeste", o "orgulho do RN", etc.
O resultado é que o jogo trouxe emoções que não senti nem mesmo quando o ABC obteve conquistas maiores, como os acessos a Série B e o título da Série C.
Ao final do 1º tempo, quando o placar apontava 4x1 em favor do Mais Querido, ao ver os jogadores instigando a torcida, batendo a mão no escudo do nosso time, demonstrando uma raça acima do anormal, comecei a chorar copiosamente, era um desabafo muito forte, pois desde o que comecei a acompanhar o ABC com mais afinco, o time só passava por situações humilhantes, especialmente entre 2003 e 2006, quando quase não viamos o Mais Querido jogar em razão do perverso calendário da cbf e das ações obscuras que fizeram o Estadual durar apenas 1 ou 2 meses no máximo.
Naquele dia veio na minha mente as mensagens da arrogante e pseudograndiosa torcida rouge (eles ainda tiveram a audácia de achar que a torcida deles eram maior do Estado). Isso tudo me fez chorar.
E com a alma lavada, o ABC passou a viver uma nova fase de sua vida, quebrando todas as correntes e estigmas que impediam a Frasqueira de sonhar mais alto.
Aquele 5x2 foi um típico filme épico em que nós da Frasqueira fomos protagonistas. Foi o dia em que a Frasqueira vestiu a carapuça de Rocky Balboa, Chris Gardner, George McFly, e outras personagens do cinema que romperam a barreira dos fracassados e se tornaram os heróis do dia.
Gustavo Lucena
5 comentários:
De lá pra cá o mekinha nunca mais se encontrou.
Leandro Cobrinha
Eu tb estava lá e fiz parte do coro que gritou É CAMPEÃO, É CAMPEÃO, e ao final da partida inesquecível a faixa que cortava todo o modulo I( logo abaixo dos camarotes), me fez ficr ainda mais emocionado.
Foi realmente um jogo memorável e que nunca sairá da minha memória.
Viva aquele 29/04/2007, o dia em que o ABC deu uma das maiores voltas por cima da sua história.
Parabéns Gustavo ! Beleza de texto.
Até a próxima.
José Leonardo
Parabens Gustavo! texto maravilhoso, essa história é para ser contada para filhos e netos, eu também participei daquele momento glorioso. valeu cara!
Maravilhoso texto Gustavo, parabéns mesmo, você descreveu com extrema habilidade os momentos que antecederam aquele fantástico jogo, do caos pós derrota para o ASSU, passando pela sobriedade imposta pelo Prof. Ferdinando Teixeira até à embriagante euforia que tomou conta de todos nós alvinegros após o apito final daquela que foi pra mim umas das maiores alegrias que o nosso querido ABC FC nos proporcionou.
ABC FC ÜBER ALLES !
Sérgio Raniere.
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