sexta-feira, 29 de abril de 2011

29/04/2007 - O meu testemunho e o que eu soube o que aconteceu nos bastidores

As semanas que antecederam essa data foram altamente dramáticas para a história do ABC FC.

Teve a goleada sofrida por 5x0 pelo modesto time do ASSU em pleno Frasqueirão. Me lembro que estava voltando de Búzios de um aniversário de um amigo e parei no estádio. Já estava 2x0. Confesso que foram os R$ 5,00 mais mal empregados no ABC (naquela época eu não era sócio, coisa que só faria quando começou a Série C) em um jogo.

A semana seguinte foi dramática em todos os aspectos: houve muita dificuldade para trazer um treinador que substituísse Roberval Davino. Flávio Lopes deu sonoro não ainda na noite da goleada, e o Presidente Judas Tadeu teve que fazer 3 refeições com Ferdinando Teixeira para convencê-lo a treinar um time totalmente esfacelado e moralmente no fundo do poço. Contou ainda com a ajuda do filho do treinador, que é conselheiro ABCdista. Além disso, teve que aparar arestas com vários homens-fortes que estavam auxiliando o empresário das guloseímas.

Vários jogadores foram dispensados e não havia mais tempo hábil para contratar peças de reposição. O velho Ferdinando encontrou um elenco limitado e ainda por cima reduzido numericamente.

Diretoria e grande parte da Frasqueira, desacreditados e desmoralizados, só queriam apenas 1 modesto 3º lugar que garantiria 1 das vagas para a Série C.

Ao final da 1ª fase, o ABC obtém o 2º colocado, muitos pontos atrás do rival, que se autointitulou o Barcelona do Nordeste. Também pudera, estava na Série A, tinha o dinheiro da Destaque, o presidente deles era eminência parda do governo estadual e os seus torcedores estavam na moda, muito embora os públicos do time de vermelho fossem pífios, menor até que os obtidos pela dupla Poti-Ba, que também viviam um bom momento.

No mata-mata o rival atropelou os oponentes e o ABC sempre se classificava as duras penas.

Quando superou o Potiguar-M e alcançou a final, a sensação era de alívio por ter alcançado a Série C. Porém 2 dias depois, o time mossoroense entrou com um pedido no TJD para desclassificar o Mais Querido e com isso alijá-lo até mesmo do Camp. Brasileiro, alegando que Ivan jogou irregular, ainda que o nome do atleta tenha sido publicado no BID da FNF.

(Abro um parênteses: os Estaduais de 2006, 2007 e 2008 foram altamente bagunçados, a turma de Pio Marinheiro e cia. tinham mais holofotes que os jogadores. Hoje, com uma gestão mais sólida, a bagunça acabou, o sistema de disputa do Estadual é muito bom e premia os melhores dentro de campo. Talvez por isso é que o rival e os clubes do interior chorem tanto, pois eles adoravam uma bagunça).

A semana que antecedeu o 1º jogo foi dramática, pois muita coisa suja correu nos bastidores, inclusive vazou um parecer da procuradoria recomendando a suspensão do campeonato. Surpreendentemente Pio Marinheiro indefere o pleito do Potiguar-M e o jogo é marcado para o domingo.

O rival achava que ia dar uma lavada, afinal o ABC era só um "timezinho esforçado" nas palavras do treinador deles.

Ao final do 1º jogo, 1x1 com o ABC jogando melhor. Isso deve ter levado o G-4 ao desespero, pois no dia seguinte eles - através da imprensa - pediam a cabeça do ABC por causa do Ivan. Entraram também com um pedido de eliminação do ABC, só que cumulado com a homologação do título do rival.

Isso criou um clima de revolta entre os torcedores do ABC, indignados com a postura nada ética dos dirigentes rubros - que zombavam direto do Mais Querido. E a situação já estava muito pesada em razão do assassinato covarde da estudante torcedora do ABC Kaliene.

No sábado fui comprar o ingresso e me deparei com uma torcida muito mordida. Ela começou a acreditar mais no título.

Vazou também lá na Vila Olímpica um boato de que dirigentes do rival já estavam comemorando o título de maneira antecipada, tinham se embebedado na sexta-feira véspera do jogo.

Diante desse clima pesado em torno do jogo, Ferdinando Teixeira tratou de instigar os jogadores a darem o máximo de si e conquistarem o campeonato. Aliás foi o último grande momento do vitorioso treinador, pois essa reviravolta do elenco ABCdista teve o seu DNA. Raposa velha, preparou todo o ambiente pré-jogo para extrair dos atletas mais de 100% das forças.

O vestuário do ABC transmitiu uma energia ultrapositiva, a Frasqueira incentivou como nunca e o time ignorou totalmente o fato do lado de lá ser o "Barcelona do Nordeste", o "orgulho do RN", etc.

O resultado é que o jogo trouxe emoções que não senti nem mesmo quando o ABC obteve conquistas maiores, como os acessos a Série B e o título da Série C.

Ao final do 1º tempo, quando o placar apontava 4x1 em favor do Mais Querido, ao ver os jogadores instigando a torcida, batendo a mão no escudo do nosso time, demonstrando uma raça acima do anormal, comecei a chorar copiosamente, era um desabafo muito forte, pois desde o que comecei a acompanhar o ABC com mais afinco, o time só passava por situações humilhantes, especialmente entre 2003 e 2006, quando quase não viamos o Mais Querido jogar em razão do perverso calendário da cbf e das ações obscuras que fizeram o Estadual durar apenas 1 ou 2 meses no máximo.

Naquele dia veio na minha mente as mensagens da arrogante e pseudograndiosa torcida rouge (eles ainda tiveram a audácia de achar que a torcida deles eram maior do Estado). Isso tudo me fez chorar.

E com a alma lavada, o ABC passou a viver uma nova fase de sua vida, quebrando todas as correntes e estigmas que impediam a Frasqueira de sonhar mais alto.

Aquele 5x2 foi um típico filme épico em que nós da Frasqueira fomos protagonistas. Foi o dia em que a Frasqueira vestiu a carapuça de Rocky Balboa, Chris Gardner, George McFly, e outras personagens do cinema que romperam a barreira dos fracassados e se tornaram os heróis do dia.

Gustavo Lucena
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5 comentários:

Anônimo disse...

De lá pra cá o mekinha nunca mais se encontrou.
Leandro Cobrinha

Jacson Artson disse...

Eu tb estava lá e fiz parte do coro que gritou É CAMPEÃO, É CAMPEÃO, e ao final da partida inesquecível a faixa que cortava todo o modulo I( logo abaixo dos camarotes), me fez ficr ainda mais emocionado.

Foi realmente um jogo memorável e que nunca sairá da minha memória.

Viva aquele 29/04/2007, o dia em que o ABC deu uma das maiores voltas por cima da sua história.

MÚSICA F. C. ! A VOZ DAS ARQUIBANCADAS. disse...

Parabéns Gustavo ! Beleza de texto.

Até a próxima.

José Leonardo

notícias de REBELDE disse...

Parabens Gustavo! texto maravilhoso, essa história é para ser contada para filhos e netos, eu também participei daquele momento glorioso. valeu cara!

Anônimo disse...

Maravilhoso texto Gustavo, parabéns mesmo, você descreveu com extrema habilidade os momentos que antecederam aquele fantástico jogo, do caos pós derrota para o ASSU, passando pela sobriedade imposta pelo Prof. Ferdinando Teixeira até à embriagante euforia que tomou conta de todos nós alvinegros após o apito final daquela que foi pra mim umas das maiores alegrias que o nosso querido ABC FC nos proporcionou.
ABC FC ÜBER ALLES !

Sérgio Raniere.