quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Artigo de Julio Gomes Filho / ESPN

A seleção brasileira não vive um bom momento. Isso é óbvio, é claro, não há nenhuma novidade da primeira frase deste post.

Eu já começo dizendo que defendo a continuidade de Mano Menezes. Vejo nele um treinador que entende de futebol, que teve bons trabalhos em sua carreira e que está se adaptando ao novo cargo. Mas esse não é um post para defender Mano Menezes. Esse é um post para lançar a seguinte pergunta:

O que, afinal, as pessoas querem da seleção brasileira??

E não espero achar uma resposta, porque acho que simplesmente não exista essa resposta. Cada um quer uma coisa, cada um pensa uma coisa e não há um padrão nas reclamações e cornetagens. Nem de torcedores e nem de jornalistas. E é isso que me incomoda. Essa falta de critério e coerência me incomodam faz muito tempo, daí o desabafo.

Primeiro tópico: Ricardo Teixeira. Pô, o cara é um mal para a futebol brasileiro, para a organização do calendário, é um ser que deveria ser mais bem investigado e, eventualmente, punido. Agora... ele só tem que cair porque o Brasil fez uma péssima Copa América e perde amistoso contra seleções grandes???

Oras bolas. Dizer isso é o mesmo que dizer que seu trabalho era ótimo, magnífico, maravilhoso ao final das Copas do Mundo de 1994 e 2002. Não é possível, não podemos simplificar tanto as análises e opiniões. Ganhou? Boa, Ricardo Teixeira! Perdeu? Fora, Ricardo Teixeira!! Não podemos ser assim. Nem no jornalismo nem na vida.

Segundo tópico: Amistosos. Desde que eu me conheço por gente, há 20 e tantos anos acompanhando futebol, eu ouço: "O Brasil só joga contra galinha morta, esses amistosos não testam a seleção, são vitórias que não valem para nada, bla, bla, bla".

Aí o Mano decide jogar só contra time bom. Argentina, França, Alemanha, Espanha, Itália. Claro que há um risco tremendo em fazer isso, porque você pode perder os jogos. Mas foi uma decisão corajosa, uma decisão de "macho". É MUITO melhor fazer esses caras ganharem experiência nas derrotas, enfrentar timaços, do que ficar ganhando de pangaré.

Mas minha opinião sobre o tema não vem ao caso. O que eu critico é quem criticava os jogos contra pangarés e agora critica os jogos contra os grandes. O que querem, afinal??

Chegamos ao terceiro tópico: o que importa é ganhar?

Porque, se o que importa é ganhar, por que estavam pedindo a cabeça do Dunga? O cara ganhou tudo na seleção. O time tinha um padrão de jogo, todos sabiam a escalação de 1 a 11, jogava um futebol moderno, correto, com pressão na marcação e vencedor. Era perfeito? Lógico que não. Mas os resultados eram melhores do que os do Mano, do Parreira, do Zagallo.

Aí chega o Mano e TENTA criar um padrão diferente de jogo. E não dá certo de cara, o time está se renovando, vai perdendo, perdendo, empatando. E de repente AQUELES MESMOS que diziam que os resultados do Dunga eram bons, mas o criticavam dizendo que o que "importava era jogar bonito", agora dizem que o "resultado é o que importa". Oras bolas. O que queremos??? O que querem??

É resultado? Ótimo. Então que seja resultado. Mas onde está a coerência? Quem queria resultado, não pode malhar Dunga. E muito menos Parreira em 1994, o que muitos fazem até hoje. Coerência, apenas peço coerência.

Quarto tópico: jogar bonito. Esse tópico está atrelado ao anterior. Pois quem reclama dos resultados bons sem jogar bonito deve explicar o que é, de fato, jogar bonito. Quem pede para Mano deixar o lugar para Muricy ou Felipão deve explicar, por favor, onde está o jogo bonito dos times de Muricy e Felipão.

O que é o jogo bonito???

Para mim, é coisa do passado. Hoje, o Barcelona joga um futebol muito gostoso de se ver, mas é uma exceção, uma aberração. Porque criou um estilo há 20 anos, seus jogadores são criados desde os 8, 9 anos de idade fazendo a mesma coisa e isso chegou ao time de cima. Com um adendo: foram encontrar um gênio, um dos cinco maiores da história, largado na Argentina. É um clube, oras. Não é uma seleção. É muito mais fácil fazer isso em um clube.

Qual é o estilo da seleção? Em 86, 90, 94, 98, 2002, 2006 e 2010, a seleção brasileira jogou sete Copas do Mundo de modo diferente. Qual é o nosso estilo? Será que a seleção brasileira teve, algum dia, um estilo? Ou será que o estilo é do JOGADOR brasileiro? É diferente. Jogador pode ter estilo, time pode não ter. É o nosso caso.

Jogar bonito é defender bem, ser eficiente nos contra ataques, como sempre fez a Itália, como fazia o Brasil de Dunga? Jogar bonito é jogar com raça, com coração e sem muita criatividade, como o Uruguai? Jogar bonito é manter a posse de bola o tempo todo, controlar o jogo? O time de Parreira fazia isso. O que é, afinal, jogar bonito?

Cada vez mais, me parece coisa do passado. Aquele saudosismo básico que nos faz achar que o mundo era mais legal, que as músicas dos anos 80 eram melhores, que a Fórmula 1 era mais emocionante, que os carros do passado eram mais resistentes, que as novelas da nossa infância eram melhores do que as atuais. Estamos SEMPRE nos remetendo ao passado para justificar impaciências e insatisfações do presente.

Acho que tem um monte de time que joga bonito à sua maneira, inclusive os times de Muricy e Felipão. O bonito, hoje, é outra coisa. A "coerência" das pessoas, para mim isso está claríssimo, é achar que bonito é o que ganha. Em 2002 ganhou a Copa? Jogava bonito. Em 2010, perdeu? Jogava feio. Até a Itália de 2006 jogava bonito, para muitos. Afinal, ganhou, não é mesmo? Tudo está relacionado.

O quinto e último tópico: jogadores. Quem pede um hoje, pede para esse mesmo sair amanhã. Quando o técnico troca, é burro, porque deveria ter colocado fulano. Quando o técnico coloca fulano, é burro porque deveria levado fulano outra hora, agora é tempo para beltrano. E assim vai. Sempre, sempre, sempre reclamando de muitas decisões.

André Santos possivelmente sairá da seleção. Eu não ficaria NEM UM POUCO surpreso se, daqui algumas semanas, algum lateral esquerdo entrasse, fizesse bobagem e o Twitter apontasse, em seus trending topics, algo assim: "#voltaandrésantos".

Hoje, acompanhar jogo de seleção brasileira virou uma coisa realmente chata. Porque as críticas não são feitas de forma coerente, parece que as pessoas estão sempre insatisfeitas, sempre arrumando motivos para reclamar. Isso acontece nos clubes também, com técnicos tendo suas cabeças pedidas após um par de empates, um par de derrotas.

Quando a seleção está em pauta, a empáfia do brasileiro falando de futebol acaba exponencializada a sua máxima potência.

O brasileiro ainda não entendeu que há anos não temos os melhores jogadores do mundo. Temos alguns dos melhores, sem dúvida. Mas não somos OS melhores. As pessoas ficam indignadas porque o Brasil perde da Argentina, da Alemanha. Oras... Argentina, Alemanha. Quer dizer então que temos a obrigação de sempre ganhar deles? Discordo completamente.

Há de se entender que o Brasil não tem o melhor futebol do mundo. E já faz tempo. Vai ganhar às vezes, perder às vezes. A cobrança precisa ser condizente. É muito fácil atirar para todo lado. E, hoje, é isso que se faz. Ganhando, perdendo ou empatando, com Dunga, Mano ou Muricy, estão todos atirando para todo lado.

Atirando sem lembrar para onde atirou ontem. E para onde atirou anteontem. E atirando para um lugar diferente de onde vai atirar amanhã. Está na hora de parar, refletir, acalmar e responder: o que, afinal, querem da seleção brasileira?

Gostei muito.

Funga tava certíssimo.
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1 comentários:

Diego Ivan disse...

Texto interessante, mas digo sem medo de errar duas coisa:

1- Dunga permenace errado.

2- Mano é um tecnico extremamente limitado.

Abraço!!!