quinta-feira, 12 de agosto de 2010

A Copa do Mundo e calendário de competições do futebol brasileiro

A Copa do Mundo de 2014 tem causado bastante preocupação em diversas áreas: infraestrutura, zelo com o dinheiro público, controle da roubalheira, segurança, melhoria nas cidades-sede, etc.

No entanto, nada se fala em relação ao desenvolvimento do futebol brasileiro, dos clubes e principalmente do calendário de competições.

O futebol brasileiro está totalmente marginalizado e escanteado do processo de gestação da Copa.

Ninguém levanta a bola sobre a necessidade de reestruturação da organização do futebol brasileiro, principalmente após a Copa de 2014, quando se fará necessária a utilização dos equipamentos construídos sob pena de vermos novos elefantes brancos e novas chiadeiras sobre o desperdício de dinheiro público.

Verificando as 12 sedes da Copa, em 2 delas o futebol profissional está relegado a Série D e a sazonalidade (Cuiabá-MT e Manaus-AM) e em noutras 3 os clubes locais às duras penas se firmam no máximo na Série B, com rápidos passeios pela Série A (Natal-RN, Fortaleza-CE e Brasília-DF).

A Copa do Mundo sempre alavancou o futebol nacional, principalmente em países onde o esporte era relegado a segundo plano. A prova disso é os EUA que após 1994 fundou uma Liga rentável e que aos poucos vai se tornando um negócio milionário. Japão e Coréia do Sul também deram saltos estrondosos na qualidade das suas ligas nacionais após 2002.

O futebol brasileiro é elitista e desorganizado. Colocam num mesmo balaio de gatos clubes profissionais e varzeanos. O futebol do RN é o retrato fiel disso, pois coloca lado a lado um clube profissional como o ABC FC e times que se foram sempre em cima da hora como o ASSU ou o Centenário e que sempre se recusam a disputar competições nacionais.

O resultado dessa mistura é que a cbf apenas apóia e tutela os clubes que estão nas Séries A e B. Da Série C para baixo, vemos competições sazonais e de tiro curto, em total desrespeito ao Estatuto do Torcedor, que exige um calendário de competições que propicie 10 meses aos clubes.

É preciso haver uma reforma no calendário de competições. A Copa do Mundo só fará algum sentido para o futebol dos Estados do MT, AM, CE, DF e RN se ao final - ou mesmo antes - forem criadas competições rentáveis, longas e atraentes para os clubes desses estados.

Os Campeonatos Estaduais em sua maioria são deficitários, não podem ser a célula de sobrevivência da maioria dos clubes. Podem até ser mantidos, mas precisam ser mais atraentes no ponto de vista técnico e financeiro.

O Campeonato Brasileiro precisa ser mais democrático. As Séries C e D precisam de fórmulas de disputa mais alongadas. A Série D não pode ser restrita àpenas 40 clubes, pois ela tem que ser tratada como a base da pirâmide, o degrau inicial para quem quer chegar a Série A.

Outra medida é separar os clubes amadores dos clubes profissionais. Alguns Estados como o RN deveriam ter no máximo 6, 8 clubes profissionais, mas que esses clubes tenham capacidade estrutural de disputar competições nacionais ao longo de um ano inteiro, sem serem forçados a interromper suas atividades profissionais em razão da falta de competições.

Falamos apenas do futebol brasileiro profissional, que é apenas a ponta do iceberg, pois também é importante efetivar o futebol feminino e reformular totalmente as competições de categorias de base, que precisa ir muito além de uma Copa SP de futebol júnior, além de é claro, estimular o futebol amador nos rincões do Brasil, criando inclusive uma competição nacional e de tiro curto.

São todos esses aspectos que precisam ser levados em consideração pelos maganos do Poder Público (a Comissão Organizadora da Copa dispensa total desprezo ao futebol brasileiro), sob pena da Copa de 2014, ao invés de deixar um legado, deixar um fardo.

Gustavo Lucena

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