quarta-feira, 28 de abril de 2010

Nossa Copa

Texto do Jornalista Alex Medeiros.

Os espertinhos estão pensando que todo mundo no Rio Grande do Norte é burro. Nas últimas semanas, capitaneados por estímulos oriundos do próprio gabinete do governador do estado, uma tropa de choque tenta vender gato por lebre. E que gato.

Querem driblar a opinião pública com uma chantagem travestida de anseio social, vendendo a mentirosa idéia de que se os deputados não aprovarem um empréstimo de R$ 77 milhões, Natal poderá ficar fora da Copa 14 e perder a condição de sede.

Aproveitando a véspera da Copa da África, quando o grosso da população está sintonizado nos jogos das seleções do mundo, espalham pela internet e suas redes o suposto prejuízo que a Assembléia promoverá adiante se não liberar o dinheiro.

Em verdade, o que realmente preocupa o governo e seus parceiros políticos é a véspera das convenções partidárias que definirão as candidaturas de outubro. Há de ser mais que inocente quem acredita que o valor em questão é decisivo para manter Natal no páreo.

O que rola debaixo do tapete da polêmica nada tem a ver com a bola dos jogos da FIFA; muitos no governo e na prefeitura da capital já sabem que a incompetência e o amadorismo de ambos é que estão fazendo naufragar a candidatura de Natal.

Ninguém avançou coisíssima nenhuma em relação às exigências da CBF e FIFA, a não ser torrar R$ 3 milhões por uma maquete virtual criada às pressas só para garantir o direito à exposição de uma proposta de sede. Outras cidades até usaram imagens iguais.

Natal corre o risco, sim senhor, de ficar fora da lista final das sedes da Copa 2014, por pura incapacidade dos gestores locais e seus parceiros privados e políticos com interesses inconfessáveis no contexto. Nada tem a ver com o tal empréstimo.

Ontem, o deputado Getúlio Rego (DEM), cuja seriedade na atuação parlamentar é elogiada até por históricos adversários, fez o que deixaram de fazer os cães de guarda da “Copa 14 a todo custo”: enumerou os empréstimos dos últimos 7 anos de governo.

Munido de documentos oficiais, Rego citou um a um os milionários empréstimos que a administração Wilma de Faria fez junto a diversas entidades financeiras, estatais ou paraestatais. O resultado é a estrambótica soma de R$ 1.915, bilhões.

Quando nos damos conta de tal quantia e vemos a realidade do RN, com hospitais sucateados, escolas sem professores, professores sem bons salários, falta de delegacias, delegacias sem policiais e policiais sem salário digno, impossível evitar a indignação.

O pior é assistirmos aos sinais exteriores de riqueza de diversos agentes públicos, gente que há alguns anos sequer comia fora de casa e agora desfila em carrões importados, flana pela Europa, compra apartamentos grandiosos e se exibe nos restaurantes.

Seria uma piada, não fosse tão anti-republicana a histeria criada por figuras do governo para envolver pessoas desavisadas na desavergonhada “campanha” pela manutenção de Natal na Copa 14. Pior é que há quem acredite na mixuruca tese governista.

E desde quando um evento que necessita de quase R$ 1 bi se inviabiliza por causa da “ínfima” (comparando com o valor bruto) quantia de R$ 77 milhões? Por que o governo e seu comitê gestor não especificam as obras e as aplicações em cada uma delas?

Na véspera da Copa da África, caros leitores, o cheiro que eu sinto é de véspera de campanha eleitoral. Está cada vez mais difícil no Brasil se torrar dinheiro público sem explicação e – ainda bem – os olhos vigilantes do Ministério Público estão abertos.

Acho muito estranho que, de repente, só por causa do tal empréstimo, o governo mobilize, como se fosse para a guerra, representantes de empreiteiros, hoteleiros e quetais para pressionarem os deputados em nome da viabilidade da Copa.
 
E aí eu pergunto mais uma vez: será que a “Turba do Sim” já não sabe que a incompetência tirou Natal da Copa, e que a melhor saída agora é achar um bode expiatório, fazendo no Twitter uma guerra santa contra a “Turma do Não”?

Por que os “entendedores de Copa” não trataram de desmentir o ministro Orlando Silva, quando este disse que as sedes poderão ser reduzidas a 8, em vez de 12? Cadê aquela pressa em rebater tal informação, quando quem as dava era eu, há meses?

Não, caro leitores, Natal não está correndo perigo por causa do tal empréstimo aparentemente negado pela Assembléia. O problema não está na “mixaria” dos R$ 77 mi, mas nas fortunas que tentam plantar com ela durante e depois da campanha política.

É o jogo sujo da política que está derrotando Natal e a afastando da Copa 2014.


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2 comentários:

Gustavo Lucena disse...

Confesso que no começo era contra a Copa no Brasil, por conta da roubalheira iminente, principalmente por conta da grana pública que fatalmente iria entrar.

No entanto, com a escolha, só restou torcer pelo fortalecimento das instituições republicanas (MPF, PF, ABIN, TCU, etc.).

Com a escolha de Natal fiquei animado, pois estou morando perto do Machadão e minha esposa tem um apto em Nova Descoberta.

Ou seja, a Copa do Mundo para nós seria uma forma de lucrar em cima dos gringos, já que pretendemos em 2014 faturar alto com o aluguel do apê.

Mesmo assim sempre fui realista diante da possibilidade de Natal cair fora mesmo após a escolha. Senti isso no dia em que anunciaram Natal, quando D.Wilma, Micarla de Souza, Agripino Maia e Fábio Faria passaram a brigar entre si pela paternidade da escolha de Natal.

Ou seja, ao invés de começarem a trabalhar, perdeu-se muito tempo brigando para saber quem era o pai da criança e que por isso deveria ser o "dono do cofre".

Isso sem falar na pressão velada do XV de Japecanga contra a demolição, pois iria ficar sem teto.

O Machadão já era pra ter ido abaixo.

Eu tiro isso porque se o Frasqueirão, que foi uma construção privada, levou quase 5 anos para ser levantado, imagina o novo Machadão que, além de ser maior e mais caro, é um bem público. E todos nós sabemos que nas obras públicas, a burocracia é muito maior.

Ainda torço por 2 milagres: 1º) que Natal sedie a Copa; 2º) Que haja transparência e lisura na aplicação do $$ público.

Porém, isso soa como uma utopia.

Luciano disse...

Me desculpem, mas parei de ler em: "Getúlio Rego (DEM), cuja seriedade na atuação parlamentar é elogiada até por históricos adversários"

Ninguém desse partido é sério!