quinta-feira, 24 de março de 2011

Do blog Na cara do Goleiro: "A armadilha dos estaduais"

Por Gabriel Perecini

Todos os anos ocorre a mesma situação: clubes entram nos estaduais os encarando como preparação para o resto do ano, mas no decorrer do campeonato muitas coisas mudam, e o que era pra ser uma preparação, às vezes derruba técnico, gera crise, e em casos contrários, "maquiam" alguns clubes, fazendo com algumas vitórias contra times fracos, sejam entendidas como se esse determinado clube estivesse pronto para outras competições mais equilibradas, com um nível técnico maior e isso prejudica demais os clubes.

Os torcedores dos clubes, em sua maioria, alegam que não se interessam pelos campeonatos estaduais, e antes dos mesmos começarem, dizem ter consciência de que o time está voltando de férias e que precisará de um tempo pra se acertar, mas na prática não é assim que acontece. Após duas derrotas seguidas, o trabalho do treinador já começa a ser questionado e o time já não serve. E com atitudes como essa, os torcedores muitas vezes prejudicam o próprio clube.

Os dirigentes também tem a sua parcela de culpa, quando deixam que o pensamento fanático dos torcedores influencie dentro do clube, onde os pensamentos devem estar voltados para a razão, e não para o coração. Eles também tem culpa quando se deixam levar por certos resultados nos regionais, e acham que o time terá o mesmo desempenho, em um campeonato brasileiro, por exemplo. Quantas vezes o Flamengo foi campeão carioca, que é considerado o segundo estadual mais difícil do país, e por muito pouco não foi rebaixado no Brasileirão? Outro exemplo aconteceu ano passado, quando o Botafogo foi campeão carioca sem a necessidade da final, ganhou os dois turnos, e acabou eliminado na Copa do Brasil pelo Santa Cruz, que vinha mal no estadual de Pernambuco, e disputa a quarta divisão do Brasileirão 2010, ano em que não conseguiu se classificar para a próxima fase, e em 2011, jogará de novo a última divisão do futebol brasileiro.

Mas também temos que analisar quando um clube ganha o estadual. O que podemos perceber? Sua torcida faz menos festa que em qualquer outro título, as torcidas adversárias ignoram o feito, alegando o que alegam antes de começar o torneio, de que não vale nada, e o clube vencedor não pode, na maioria das vezes, sequer usar esse argumento para o restante da temporada como motivação, pois é rebatido com frases do tipo: "Não fez mais que a obrigação".

Na minha opinião, os estaduais não deveriam mais existir. Perderam todo o charme e pior, ainda atrapalham o calendário, como disse meu amigo Rafael em outra coluna deste site.

Entretanto enquanto eles existirem, é preciso que dirigentes e torcedores tenham um pouco mais de inteligência para beneficiar o clube que defendem e diminuir os prejuízos causados por um campeonato que praticamente não lhes dá nada de bom em troca, mesmo quando o resultado final é o título.

Algumas considerações sobre o texto:

1-Concordo quase que integralmente com o que o Gabriel Perecini falou. E de fato o ABC já caiu algumas vezes nas armadilhas do Estadual. Em 2009 e esse ano. Realmente nesse aspecto, Estadual costuma atrapalhar, principalmente por conta do nível técnico ilusório. O ABC sempre entra em campo com obrigação de vencer o Estadual, tolerando-se no máximo ser vice do rouge. No entanto, quando o ABC perde o Estadual para clubes de menor tradição e estrutura, aí a crise se instala automaticamente. A sorte desse ano é que ainda tem o 2º turno para se redimir. Por outro lado, se o ABC vence, ficará sempre o medo de que o Estadual é uma competição fraca tecnicamente, que não serve de parâmetro para o Brasileiro. E que por isso o ABC não tenha um time preparado para encarar maiores desafios Enfim, se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.

2-Não concordo que os Estaduais devam ser extintos. 90% dos clubes brasileiros só tem os estaduais para disputar e muitos deles quando chegam em abril já estão fechando para balanço porque não tem mais o que disputar. Além disso, os estaduais para muitos clubes é a única possibilidade real de se disputar um título ano após ano. E até mesmo para os grandes servem como paliativos para evitar grandes jejuns e estancar crises desnecessárias, já que para torcedores dos times do C-13, p.ex., vice-campeão e nada é praticamente a mesma coisa. A solução seria modificar radicalmente os Estaduais no contexto do calendário brasileiro, de forma que este se torne enxuto (com espaço para uma pré-temporada decente) e aqueles sejam revitalizados. Os estaduais deveriam ser alongados e disputados paralelamente ao Brasileirão, no entanto, apenas pelos clubes que não estivessem inseridos nas Séries A, B e C. Os 60 clubes das 3 divisões principais por sua vez só disputariam os Estaduais em suas fases finais, que ocupariam no máximo umas 10 datas do calendário. Essas 10 datas poderiam ser localizadas no meio do ano (quando haveria uma pausa no Brasileiro) ou no final do ano.

Gustavo Lucena
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