Eu havia comentado no post “Imagens do Clássico” que tinha uma estória sobre o meu querido Avô e a iluminação do Estádio da Lagoa Nova. Pois bem! Êi-la:
O meu Avô, Ivan Alves da Costa, até onde sei é ABCdista, mas a ultima vez que ele havia ido ao Machadão, este ainda se chamava Castelão. Só por esse detalhe vocês já podem imaginar a quanto tempo ele não ia ao Estádio Municipal.
O time de vermelho ascendeu á Serie A em 1997, e o irmão do meu Avô, José Alves Filho, carinhosamente chamado pela família como Zezinho, americano, colocou na cabeça do meu Avô que eles tinham que ir ao Estádio assistir a um jogo de primeira divisão. Meus amigos, já imaginaram dois velhos sem costume de ir aos jogos em um Estádio cheio? O meu Avô com setenta e muitos anos, e seu irmão, um dos mais novos de uma família de dez, com sessenta e muitos, é situação de perigo em todos os lugares; não é mesmo? Depois de muita conversa com minha Avó Nina e, como os dois não poderiam ir sozinhos ao jogo, coube a mim, meu Pai e um primo, Giovanni, americano como o Pai (tio Zezinho), a incumbência de levá-los ao jogo.
O jogo pouco importa, confesso que não lembro qual era a partida, mas com as dificuldades de locomoção do meu Avô, logo apareceram as reclamações quanto as escadarias do Machadão. Para chegar às arquibancadas foi um problema. O meu Avô na década de oitenta havia sido atropelado e mantém, em virtude disto, até hoje algumas seqüelas. Por fim, chegamos às arquibancadas do “Poema de Concreto”, que de poema não tem mais nada; acomodamo-nos no local destinado à torcida do Alecrim Futebol clube, como sempre faço.
O meu Avô que não sai de casa sem seu indefectível boné, e como todo idoso não tem papas na língua, não demorou nem cinco minutos e já começou a reclamar da iluminação do Estádio. Boné para cima, boné para baixo e nada de enxergar o jogo. Também pudera, a arquibancada fica longe do campo, além de que a iluminação incide diretamente nos olhos do espectador. O meu Avô não contou conversa decretando: “Vamos embora! Não estou vendo nada!” O tio Zezinho, conhecido por ser a pessoa mais calma da família, sempre com um sorriso no rosto, e também de boné, tentou de todas as formas manter-lo no campo. Conseguiu a muito custo... Só que no intervalo, não houve como contemporizar: meu Avô sem muita conversa, já se levantando, disse: “vamos embora, que eu prefiro assistir na televisão!” (Lembrei! O jogo foi América 1 x 1 Corinthians; esse passou na TV.)
Pois bem!, ficamos eu e meu Pai para ver o restante do jogo, e meu Avô foi embora levando o resto da turma. Ficamos nas escadarias do Machadão escutando a zuada dos americanos, enquanto meu Avô, Tio Zezinho e Giovanni curtiam uma cervejinha gelada no sofá de sua casa em Candelária.
A iluminação daquele Estádio sempre foi muito fraca; as antigas torres das luminárias não tinham muita potencia e por isso o Machadão, via de regra, deixava transparecer aquele jeitão de boate. Quando uma delas caiu, devido à ação do tempo, algum virtuose de inteligência teve a brilhante idéia de economizar suprimindo a instalação de novas torres, colocando, sem o menor estudo técnico, as luminárias do estádio sobre as marquises. Ora! Quem usa prótese ocular corretiva, “penhoradamente agradece” àqueles feixes de luzes incidindo diretamente nas lentes. Não conheço ninguém que nunca tenha colocado a mão na frente dos olhos para evitar o nocivo feixe luminoso.
Entretanto, o tio Zezinho não se deu por vencido. Passou a semana todinha convencendo o meu Avô, de que tinha arrumado uma maneira de driblar a iluminação do Machadão; “Fiz um boné especial! com esse aqui, não tem jeito, vai dar para ver o campo todo!” Com o novo aparato e seduzido pela engenhosidade do boné, o meu Avô resolveu ir a mais um jogo. (A engenhosidade nas gambiarras é a marca registrada do meu Avô)
O boné é esse aí da imagem. O tio Zezinho colou um pedaço de plástico na aba do chapéu, de maneira que ele barrasse aos feixes luminosos indesejáveis e permitisse que os olhos enxergassem confortavelmente o palco do jogo – o gramado.
Com a eficiência do boné comprovada, o meu Avô Ivan ainda foi a mais alguns jogos. Mas, a idade é fogo... Hoje ele só assiste aos jogos em sua casa. Infelizmente, o tio Zezinho faleceu há uns cinco anos, no entanto, a brincadeira, que amoldou-se naturalmente na minha memória. Valeu à pena!
Certo é que se no penúltimo sábado minha câmera digital possuísse aparato semelhante aquele de 1997, não teria tido nenhum problema para registrar o jogo.
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